Mundo Surreal

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O homem e a Árvore


Sempre que passava por aquele lugar eu o via. Olhava atentamente aquela arvore, tão alta, tão majestosa com seus gigantes galhos unindo-se ao colossal tronco. No meio da sua sombra era dificil identificar uma réstia de sol, tamanha era a densidade da sua copa. Os pássaros cantavam alegremente no fim da tarde, empoleirados aos pares em um hino à vida. A relva à sua sombra, constituída de pequenas flores e uma gramínea constante era o lar de milhares de insetos que pontilhavam de cores o incessante verde. Aquela árvore e tudo à sua volta se fundia em uma maravilhosa obra da natureza. E o homem a olhava. Todas as tardes lá estava ele a contemplar a frondosa copa. Passava longas horas a vagar em volta do tronco, sempre olhando para cima, como se nada mais fosse importante. Por vezes se fixava em um certo ponto e só ia embora quando sentia que o sol ja não mais lhe fazia companhia.

Um dia vi várias pessoas em volta da árvore. Vim a saber depos que aquele homem havia se suicidado. Enforcara-se na arvore que sempre havia admirado. E pendia amarrado pelo pescoço ao mais grosso galho. Naquele dia não houveram pássaros.

Hoje eu penso no pobre suicida e me pergundo se aquele olhar era realmente de admiração ou de tristeza, a dialogar silenciosamente com seu manso algoz. Hoje penso no quão contraditória pode ser a vida: em uma paisagem borbulhante de vida, também pode soprar a gelada brisa da morte. E é em meio à brisa que faz farfalhar a relva nas frias noites de inverno que eu penso ver uma pessoa caminhar ao redor da arvore. Até hoje não se sabe o motivo do suicídio, mas agora aquela pobre alma não precisa mais ir embora ao por-do-sol.

Um comentário:

  1. "Hoje penso no quão contraditória pode ser a vida: em uma paisagem borbulhante de vida, também pode soprar a gelada brisa da morte."

    E a vida é tão maravilhosa pra quem sabe dar valor a ela...

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