Mundo Surreal

quinta-feira, 18 de março de 2010

Outono


Escrevo estas palavras com tinta azul. Não azul como o céu, porque este está nublado. Não azul como as paredes do meu quarto, porque estas estão sujas. E não azul como o meu coração, pois este está angustiado. Mas azul como a esperança que encontro no fim desse labirinto de desespero.

A poucas páginas adiante, neste velho caderno, outrora companheiro de momentos felizes, há desenhos que retratam sentimentos disformes e escuros como a noite em outro lugar que não aqui.

Os dias se tornam semanas e as semanas se juntam em meses, tingindo meu calendário. Tempo. Tempo que sobra, tempo que grita, tempo que pune o ócio, e a vida vai se esvaindo por entre meus dedos.

Arranquei as asas do anjo que me foi confiado.
Pisei no botão que deveria regar.
Acusei quando deveria defender.

E essas lembranças me afligem, queimam meu espírito e se manifestam no meu corpo como sombras sob meus olhos.

Poderia eu apagar os fantasmas do passado? Ou apenas a morte, cujas vestes ouço farfalhar na grama do jardim, ao cingir-me com seu gélidos braços trará o conforto de que preciso para descansar?
O vento entra pela janela, é o Outono que chega. Esse ano não verei o inverno.

Um comentário:

  1. Tão profundo... senti seu coração aqui.
    Parabéns, isso não é para qualquer um, de verdade. :)

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