Mundo Surreal

domingo, 31 de outubro de 2010

I. O Advogado

Quem nunca teve alguma experiência estranha? Hoje recordo-me de uma que tive. Durante certo tempo me perguntei se relamente havia acontecido, mas agora que reflito mais atentamente sobre o ocorrido percebo sua materialidade, tanto quanto o fato de eu estar aqui hoje.

Era em um outubro escuro. A estação da seca dava lugar à chuvosa, que trazia consigo as tempestades típicas dessa nova fase. Vez ou outra ouvia-se dizer ter caído um raio na cabeça de alguém. Às duas da tarde os pássaros ja se recolhiam para dormir, devido a escuridão das nuvens carregadas que encobriam totalmente o céu. As donas de casa praguejavam contra o vento que trazia os mais variados tipos de folhas para dentro do quintal e infestava de poeira as salas.

Foi justamente fugindo de um temporal que cheguei em casa naquele dia. Embora tenha escapado do grosso da chuva, não consegui evitar os primeiros pingos, ja suficientes para provocar um friozinho e molhar boa parte dos documentos que trazia comigo. O escritório estava um caos e tive que trazer trabalho para casa outra vez. Eram casos dos mais complicados: homicídios e estupros abriam a lista, e eu, mesmo sendo um conceituado advogado, tive certos problemas para elaborar minha defesa. Deixei os papéis sobre a escrivaninha e fui tomar um banho quente. Como morava sozinho, mantive a porta do banheiro aberta e comecei a me despir. Foi então que notei um fato estranho, o primeiro de uma longa noite. Quando olhei de relance para o espelho me deparei com uma mancha negra bem no fundo, logo atrás de mim. Olhei depressa para trás, procurando algo diferente, mas não havia nada. Logo culpei o cansaço por ter me pregado uma peça, ainda que sem graça. Muita gente não gostava do meu trabalho, defender criminosos e políticos corruptos, por isso eu vivia com uma certa desconfiança.

Sacudindo freneticamente a cabeça por alguns instantes apaguei o vulto da mente. Precisava descansar agora. Que alívio a ducha quente sobre meu corpo gelado! Mal saí do banho ouvi passos na cozinha. Passos, tinha certeza. Com cuidado fui até o criado mudo. De dentro da gaveta tirei meu velho 38 e ainda vestindo o roupão, fui na ponta dos pés até a cozinha. Nada. Tudo estava de um silêncio sepulcral. Ja estava ansioso por encerrar logo o dia e resolvi deixar a pilha de processos para o dia seguinte. Foi então que ouvi novamente passos, desta vez no quarto de visitas. Senti um sensação estranha, como se tivessem despejado água gelada nas minhas costas e me veio um frio na espinha. Logo percebi que algo estava errado e fui conferir. Nada, exceto o mesmo silêncio. Senti fome, mas não me agradava a idéia de voltar à cozinha. Resolvi dormir logo.

Deixei a arma sobre o criado mudo, bem ao alcance da mão, vesti o pijama e deitei. Já estava de olhos fechados quado senti um frio cortante. Me encolhi ainda mais, mas o frio só aumentava. Abri os olhos e ele estava lá.

(continua)

3 comentários:

  1. Ou você continua, ou te mato! =)
    HUASDHAUDH' Adorei, de verdade!
    Bom ver que você também domina a narração, amor!
    Parabéns!

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  2. Falaa séério, quer me matar de curiosidadee??
    trate de terminar esse teexto ;p
    ashuahuashhuashashuuash
    mas até aí confesso que ficou muitoo boom :P
    parabééns! ;)

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  3. olha! deu pra escrever suspense agora é?! gostei muito da parte 1, Parabéns!

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