Mundo Surreal

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Mundo em que Você Vive

Esse mundo é podre. O canto esquerdo do meu lábio superior se contrai só de pensar na mediocridade dessa vida, que é igualmente podre. As pessoas mentem, ninguém se importa se os outros morrem de fome, dissimulam estados, falsificam papéis, documentos, sorrisos. Vida estragada.

Essa história data exatamente do dia em que acordei para a realidade. Ou melhor, do dia em que comecei a acordar para a realidade. Foi o dia em que conheci Verônica. Nem vou dizer que ela era linda, porque não era. Mas tinha um jeitinho de encantar as pessoas, sem exceção. Eu, sendo pessoa, humano e podre como o resto da laia, encantei-me por Verônica. Estar com ela era fácil, bastava deixar que seu cheiro me guiasse até onde estava, lendo qualquer coisa. Eu acreditava estar por cima: ela vinha até mim, alisava meu cabelo, beijava meu pescoço enquanto eu estava distraído, queria estar comigo. Eu gostava igualmente dela. Mas as coisas começaram a mudar.

Não pense você que, só porque acha que está completo com algo, isso vai durar, porque não vai. As coisas são volúveis, principalmente quando personificadas, sem distinção de finalidade, emoção ou instrumento. Eu era um instrumento para Verônica. Quando ela percebeu a minha inclinação, logo adotou uma postura diferente, típica da base que é a convulsão pessoal do indivíduo: indiferença. Eis que surge a origem de todos os males. Era nítida a minha paixão por Verônica, agora eu mesmo sabia disso, pois tinha acabado de perde-la para mim mesmo.

Acredito que ela sabia disso desde o início e que tudo seguiu religiosamente conforme seus planos. Por que? Quem sabe. Apenas pelo prazer de destruir uma vida, um sonho, ou de fazer uma pessoa acordar para a humanidade. Um dia, quando eu já desesperado implorava um pouco do que fora Verônica, ela simplesmente disse que eu não servia mais para as suas necessidades. É claro que não servia; agora eu era dela. Naquele dia, logo depois de secar as lágrimas, eu percebi a dura realidade que não é contada nos contos de fadas: esse mundo é podre. Schopenhouer estava certo ao enunciar que o homem é um ser que sofre. Mas sofre porque deve sofrer, para amenizar seu sofrimento faz com que outras pessoas sofram, fechando o ciclo.

Agora em cada garota que eu olho, vejo Verônica. Não mais apaixonadamente, mas vingativamente. Procuro o veneno em cada boca que beijo. Quero dissemina-lo. A mão que afaga é a mesma que apedreja. E de quem é a culpa? De ninguém. De todos. Somos todos, ao mesmo tempo, Rodin e Camille Claudel, abandonando e correndo atrás, sofrendo abandono e orgulhosos demais para aceitar, só querendo destruir próprias criações e outros corações. Eu amo a minha vida. Eu odeio o meu mundo.

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