Mundo Surreal

sábado, 7 de setembro de 2019

Patagonia


O cansaço dentro da mochila, presente, constante, pesado. As botas se moviam com dificuldade, carregando nossos pés, enquanto estes produziam bolhas com uma eficiência espantosa. O vento cortava nossas bochechas com a mesma ferocidade de cortamos nossa única fatia de pão naquela manhã gelada. As pedras eram projéteis contra nossos corpos enfraquecidos, atiradas pela própria mãe natureza em carne e osso, materializada ali em cada arbusto e em cada montanha a nossa volta. E juntos caminhamos pelo caminho do mundo todo, o caminho dos fortes e persistentes, o caminho do pó, do gelo, da grama, das folhas, dos espinhos, dos rios e dos glaciares. Pelo caminho da vida, pois a única maneira de viver é caminhando. E caminhando pelas trilhas do desconhecido, das manhãs frias, dos pedaços de pão seco, pelas porções limitadas de macarrão com molho de tomate, das esperas intermináveis, pelas vitórias sobre si mesmo, por todas essas caminhadas é que chegamos até o topo das mais altas montanhas para contemplar os mais belos lagos. E o cansaço da mochila dá lugar ao grato peso da uma garrafa d'água colhida junto à neve e deliciado junto aos olhos da melhor companhia. E as bolhas, as pedras e finalmente o cansaço serão agradecidos infinitamente por existirem e compor esse momento sublime.

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