Mundo Surreal

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Compondo uma Oração

Quando ela o encontrou, ele só tinha forças para um único pedido: "salve-me!".

Era um feto, todo deformado e ensanguentado, jogado em uma esquina qualquer. Só uma mente perturbada pela incerteza poderia produzir tal composição. Ela o pegou no colo, entre seus pequenos seios e logo sentiu o gelo do pequeno corpo mutilado. Ele, por sua vez, sentiu um rastro de calor, como um último fio azul da chama de uma vela acesa que queimou a noite inteira para um santo. Um último fio azul reconfortante, que o fez se agarrar tão vorazmente a ela que logo lhe enfiou os dedos pelos olhos e orelhas, envolveu seu pescoço, meteu-se pelos seus cabelos, queria fundir-se a ela, a esperança encarnada. Ela pouco se importou com esses loucos gestos. Entendia perfeitamente aquele olhar e aquele pedido desesperado. Acolheu-o. Acolheu-o não por compaixão, por obrigação ou necessidade, mas sim por um sentimento maior, confuso e difuso dentro de si, um sentimento sem nome, como a maioria dos sentimentos sinceros e exatamente como deve ser. E entre aqueles pequenos seios, ele adormeceu, exausto por apostar suas últimas fichas em uma desconhecida que por ali passava. Ele não sabia se era uma passagem rápida, uma pausa para um almoço ou uma hóspede de férias. Eles estavam juntos. Eles estavam felizes.

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